segunda-feira, 7 de julho de 2008

Quem não vive, véve!

Durante a semana, fico cerca de 01h20min dentro de um ônibus, 40 min pra ir e 40 min pra voltar. Isso quando não têm transito. Durante esse tempo costumo observar na ponta dos pés o que tem lá fora, daquela janelinha apertada. O que vejo todos os dias, infelizmente, são coisas lamentáveis. Hoje, por exemplo, na Agamenon tinha uma velhinha lá com seus 70 anos, ou mais... sentada no asfalto sujo com seus trapos do lado, toda encolhidinha por causa do frio pois, nem a chuva tinha piedade daquela pobre senhora. Cabisbaixa, com o olhar perdido lá estava ela largada junto com o vazio do vento. Eu? O que poderia, eu, fazer? Sou apenas uma pobre jovem de 19 anos que ainda nem sabe o que quer da vida. Ta tudo errado, torto, enterrado. A gente se acostuma a andar na contramão, ou, pelo menos tenta. Afinal de contas, estamos submetidos a isso. No começo, confesso que passava a vista e não dava muita importância para tais situações. Acho que eu já tava tão moldada àquela situação que nas primeiras ‘’viagens’’ de ida e vinda apenas olhava entristecida e ponto final. Bom, de algum tempo pra cá, as coisas vieram mudando, por causa do convívio de pelo menos 5 min por dia. Convivendo com aquelas pessoas miseráveis comecei a senti-los e entende-los aguçadamente. Suas roupinhas sujas, olhos remelados, cabelos despenteados. Não tem com quem contar, estão só, em um túnel amargurado. Adaptados com aquele jeito miserável de viver. Os olhos daqueles jovens, expressam tudo o que eles são.
Um olhar afogado, esperando uma mão para tirá-los daquela agonia. Mas estão lá naquele sol quente, fazendo algum bico para ganhar uns trocados pra comprar algo para comer ou até se drogar. Drogam-se, mas não os condeno por isso. Eles não tiveram uma família estruturada, uma educação, amizades boas; Ao redor deles estava tudo torcido. O que fazer? Fugir da sua própria realidade. Nesse meio tempo consigo sentir por um instante a dor dessa gente tão humilde, esquecida, e que foram deixada de lado junto com toda a sujeira. Venho há alguns tempos atrás costurando retalhos de uma civilização incompreensível. Degustando cada pingo de suas lágrimas... chorando baixinho pra eles não escutarem.

Acredito que tudo um dia irá ser diferente...


’Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece
Que acontece de repente
Como um desejo de eu viver
Sem me notar

Igual a tudo
Quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem
Vindo de trem de algum lugar
E aí me dá
Como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar’’

Chico buarque.